Envelhecer é algo natural e inevitável, o destino de todos nós. É assim que a grande maioria de nós encara o curso da vida — mas não o geneticista David Sinclair.
Com base em seus estudos ao longo de mais de duas décadas, ele defende ser possível retardar o envelhecimento com alguns hábitos simples para que tenhamos vidas cada vez mais longas e saudáveis.
Sinclair acredita que em breve será possível fazer isso também com medicamentos, que ainda estão sendo testados para esse fim, e diz que provavelmente vamos conseguir até mesmo reverter o envelhecimento.
O cientista, que é doutor pela Universidade New South Wales, na Austrália, e fez um pós-doutorado no Massachussets Institute of Technology, nos Estados Unidos, está à frente de um laboratório na Universidade Harvard onde pesquisa por que envelhecemos. Seu trabalho já lhe rendeu dezenas de prêmios de associações e entidades científicas. Sinclair ainda é autor de Tempo de Vida (Alta Books), que virou um best-seller do The New York Times e foi lançado no Brasil neste ano. O cientista defende ainda que precisamos mudar radicalmente a forma como encaramos o envelhecimento: em vez de considerá-lo um processo comum e natural, deveríamos vê-lo como uma doença, que pode ser tratada ou mesmo curada. Sinclair diz que só com uma mudança radical da nossa perspectiva sobre a velhice é que a humanidade vai conseguir aumentar significativamente nossa expectativa de vida. Caso contrário, diz ele, os avanços da Medicina vão nos dar apenas mais um par de anos. “Precisamos fazer melhor”, diz ele.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
BBC News Brasil – E o senhor diz que não precisamos envelhecer. Por quê?
Sinclair – Não existe nenhuma lei na biologia que diga que devemos envelhecer. Não sabemos como parar isso, mas estamos melhorando em desacelerar (o processo). E, no laboratório, conseguimos revertê-lo… Fazer as coisas certas pode diminuir drasticamente o ritmo de avanço do relógio do envelhecimento, e hoje podemos medir esse relógio, temos testes de sangue e saliva para isso. Estamos descobrindo … em pessoas que têm diferentes estilos de vida, que o envelhecimento pode ocorrer em um ritmo muito diferente. E que mais de 80% de sua saúde futura depende de como você vive, não do DNA.
Existem coisas que os cientistas descobriram ao observar pessoas que vivem muito. Elas incluem comer o tipo certo de alimentos, comer menos calorias e com menos frequência. Exercício físico também ajuda. E existem alguns que pensam que mudar a temperatura do corpo com gelo e mergulhos em água fria é útil neste sentido.
BBC News Brasil – Como isso ajuda a retardar o envelhecimento?
Sinclair – A razão pela qual os cientistas acreditam que esses hábitos de vida e intervenções funcionam é que eles estimulam as defesas naturais do corpo contra doenças e o envelhecimento. Sentir frio ou calor, estar com fome e ficar sem fôlego são maneiras de ativar essas defesas. E, na raiz dessas defesas, estão um punhado de genes, e estudamos um conjunto deles que controlam o epigenoma e são ativados pelo exercício e pela fome.
BBC News Brasil – O senhor propõe uma abordagem diferente para o envelhecimento: tratar esse processo como uma doença. Por quê?
Sinclair – Uma doença é um processo que ocorre ao longo do tempo e que resulta em invalidez e/ou morte. Isso é o mesmo que envelhecer. A única diferença é que isso, por definição, acontece com menos da metade da população. Essa classificação é arbitrária e precisa mudar.
O envelhecimento é uma doença. Acontece que é algo comum, mas só porque algo é comum e natural não significa que seja aceitável… Estamos mostrando que é tratável, que você pode retardar e evitar que aconteça. A atual exclusão do envelhecimento como doença significa que os médicos hesitam em prescrever medicamentos que podem potencialmente dar às pessoas muitos anos de vida extra saudável. Portanto, devemos declarar que o envelhecimento é uma doença ou, pelo menos, uma condição médica tratável.
BBC News Brasil – Estávamos falando sobre mudanças no estilo de vida. Mas há drogas sendo pesquisadas para retardar o envelhecimento, certo?
Sinclair – Existem moléculas, tanto naturais quanto sintéticas, que se mostram promissoras para retardar o envelhecimento e prolongar a vida dos animais e até mesmo nos estudos em humanos. E pelo menos duas delas são drogas que estão no mercado. Há boas evidências a respeito de um desses medicamentos, a metformina, que é dada a pessoas com diabetes tipo 2. Há sinais promissores de diabéticos que vivem mais do que pessoas que não têm essa doença.
BBC News Brasil – Quais seriam os impactos dessas inovações para a sociedade como um todo?
Sinclair – Há os benefícios individuais de ter saúde aos 90 anos e além, poder ter várias carreiras, conseguir brincar com seus bisnetos, não ser um fardo para seus filhos.
O outro benefício é econômico. Meus colegas, eu e alguns economistas de Londres estimamos que, só nos Estados Unidos, estender a expectativa de vida em apenas dois anos agregaria US$ 86 trilhões em valor à economia nas próximas décadas e, se estendermos a vida saudável em dez anos, seriam US$ 300 trilhões. Esse valor viria do fato das pessoas não estarem doentes.
Confira o restante dessa entrevista e fique bem informado!
FONTE: https://www.bbc.com/portuguese/geral-58740951